sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A SIMPLICIDADE É INVISÍVEL AOS OLHOS



Já era mais ou menos uma hora da tarde. Eu, como sempre, dava graças a Deus por mais um dia de sexto tempo e aula à tarde ter acabado. Por mais que a vontade de ir pra casa tomasse conta de mim, eu conseguia ficar desanimado pelo fato de ter que esperar o ônibus por mais de uma hora. Um dia de chuva. Olhei pros lados, ninguém conhecido ao redor. Então, decidi ir à barraca do Zé e comprar bala pra me entrenter durante o percurso. Sem guarda-chuva e muito menos sem vaidade, deixava os pingos de chuva cairem no rosto. As bainhas mal feitas da minha calça jeans, ao se molharem, refrescavam as minhas pernas. Sentia-me bem e ao sentir todas essas sensações e perceber os detalhes que se mantiam presentes na rua, cinquenta minutos passaram como segundos. Via um ponto verde a uns trinta metros de distância. Só podia ser o meu ônibus, porque o único que servia pra mim era o verde. Arrumei as minhas coisas, me levantei do meio fio, peguei meu cartão e entrei no ônibus. Senti-me mais entusiasmado, agora não era o tempo e a distância que me afastavam de casa. Era só a distância. Passei o cartão, mas estava sem crédito. Por alguns milésimos de segundo, reclamei comigo mesmo da minha timidez e olhei pra trás pra ver a reação das pessoas em razão da fila estar parada. Tirei do bolso e dei o dinheiro à cobradora que me retribuiu com um sorriso amarelo. Ônibus lotado, porém um assento disponível. Fiquei assustado porque à medida que eu me aproximava do assento ele continuava vazio e, quando eu me aproximei totalmente, conclui o fato. Tinha um mendigo com uma aparência péssima, mas com um sorriso aberto. Sentei e com vergonha ou até nojo, fiquei reparando o meu tênis molhado de chuva até que ele me perguntasse o porquê de eu ser tão corajoso de sentar do lado dele. Respondi, com sinceridade, que estava com muita vontade de sentar e que não via problema algum em ficar ao lado dele. Eu o via como uma pessoa normal, e era. Em razão da chuva, as janelas do ônibus permaneciam fechadas e o ar circulava cada vez menos. Assim, o cheiro ficava pior. Eu juro que me deu vontade de levantar e por mais educado que eu poderia ser, não conseguia parar de escutar as coisas que ele contava. O que realmente me interessava era a felicidade e a simplicidade que ele contava as suas histórias ruins. Passava fome, devia dinheiro, vendia jujuba na rua, tinha 5 filhos pra criar, mas podia-se ver nos olhos dele que era feliz. Depois de muita conversa e de muitas perguntas minhas (tentava ao todo tempo entender o motivo da felicidade), ele levantou uns 3 pontos antes do meu e começou a "tentar" vender jujuba dentro do ônibus (que com uma essência de eucalipito ficaria uma sauna ideal). Nenhuma jujuba vendida. Sorriso no rosto e sinal pra descer. Abanei as mãos fazendo sentido de que eu iria comprar as jujubas que custavam um real. Pedido rejeitado. Lá se foi ele com lucro zero, despesa da passagem e um "amigo de ônibus". Sem ninguém pra conversar, fui pro assento da janela e mergulhei nos meus questionamentos. Questionava-me o porquê de eu, mesmo com problemas que pra mim eram grandes e que em relação aos outros eram pequenos, não conseguia ao menos dar um sorriso. Qual era a fórmula que o cara usava? Ou era apenas fingimento? Não sei. Resmunguei e fiz sinal pra descer do ônibus. Desci e com a mesma falta de vaidade de antes deixei os pingos de chuva baterem no rosto. Quando peguei a chave, senti algo estranho dentro do bolso do casaco. Era uma jujuba idêntica ao que o simples mendigo vendia. Passei a ver aquele dia chuvoso como um dia de sol e como aquela jujuba foi parar no meu bolso? Eu realmente não sei. Só sei que eu tive um olhar diferente pras coisas e que a simplicidade é invisível aos olhos. Pelo menos aos meus.


9 comentários:

  1. A gente só começa a perceber as coisas quando elas acontecem. As vezes esperamos errar para poder aprender, o que acontece na maioria das vezes, enquanto deveriamos aprender para não poder errar. É assim sempre... Tá lindo demais o texto. Vc escreve mt!! iza

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  2. ficou muito foda, cara! amei math :D

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  3. Muito lindo o texto que você postou. Realmente as pessoas tem nojo e olham de forma errada pra esses mendigos... mas como você mesmo disse, eles tem problemas muito maiores e enfrentam-os como se fosse a coisa mais simples do mundo e o mais importante, nunca tiram o sorriso do rosto!

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  4. Muito lindo o que você postou. Realmente as pessoas tem nojo e olham de forma errada pra esses mendigos... mas como você mesmo disse, eles tem problemas muito maiores e enfrentam-os como se fosse a coisa mais simples do mundo, e o mais importante, sempre com um sorriso no rosto.

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  5. Parabéns primo, você escreve muito bem, adorei a história, o que ela nos ensina, e tenho muito orgulho de você! Beijo grande.

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  6. Juro que ainda vou ler seu livro! Cheiiiiio e crônicas super bem escritas!

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  7. Vc escreve mto bem, meus parabens!
    Eh dificil ver alguem com tanto talento!
    Continuem sendo essa pessoa simples que vc eh!
    xD

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  8. ameei, ameei , ameei essa (: sério, vc ta mandando muitoo ! continuee escrevendo ! hahhaha vai arrasaaar \o
    beeijoss !!

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  9. porra mlk parabens pelo blog,foda de maaais,esse aqui pra mim é o melhor parabens mesmo :)
    esse rapaz tem o dom

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